Entrevistado: Paulo Régis Almeida - Técnico de Segurança do Trabalho e Facilitador.
Por: Diegoh Mayrink
Diego: Para começar esta entrevista, Paulo, diga-nos qual é a sua idade?
Paulo: 34 anos.
D: Há quanto tempo você se formou e há quanto trabalha como Técnico de Segurança?
P: Sou técnico de segurança desde 2003, estagiei um tempo, mas só em 2005 comecei a trabalhar de fato na área.
D: Trabalhou sempre em regime off-shore?
P: Fiz o programa da empresa, passei pouco mais de um ano trabalhando em terra e depois comecei a embarcar.
D: Quais seriam as principais diferenças, na sua opinião, entre os regimes on e off-shore se tratando de segurança?
P: Diversos. Apesar da folga do nosso regime off-shore, muita coisa acaba por deixar todo mundo inquieto. Confinamento, saudade, preocupações com diversos assuntos. Isso sempre refletiu no desempenho dos trabalhadores e sempre vai ser assim. Mas se tratando de segurança, em terra, por mais parecido que seja o ambiente com o off-shore no quesito perigo, existem muitas alternativas para uma faina. Hospitais, meios de resgate, tempo de resgate, outros recursos caso os principais não venham a dar certo.
D: Por que escolheu essa área sendo que conhecidamente outras áreas tem um plano de carreira melhor?
P: Olhando de fora do mundo do Petróleo é muito difícil saber o que é promissor ou não.
D: Como você descreveria o exercício da sua função?
P: O TST (Técnico de Segurança do Trabalho) agrega mais função a cada dia, não se trata mais de tomador de conta de determinadas operações, hoje realizamos reuniões, registramos tudo e qualquer coisa, tudo é documentado guardado e auditado constantemente. As pessoas não imaginam, mas a ANP possui altos níveis de requisitos de segurança. Verificamos e abrimos PT, realizamos reuniões diárias nas áreas operacionais, analisamos as APTs e concedemos, sem falar em verificar locais de trabalho como trabalho em altura e espaços confinados, todo TST também é HLO então acompanhamos todo pouso e decolagem, alem das quatro palestras semanais, por exemplo.
D: O que é um Facilitador?
P: Facilitador tem a obrigação de supervisionar as praticas de segurança, faz também parte da comunicação da base com a plataforma. Mas a obrigação principal de um Facilitador esta em manter atualizado a carta de curso de todos à bordo.
D: Você se sente realizado? Pretende encerrar sua carreira como Técnico de Segurança?
P: Bom, eu gosto do que eu faço. As normas estão em constante evolução e mudanças, então continuo aprendendo e agregando. Mas muitas vezes da vontade de experimentar uma mudança de ares. Mas sempre penso naquele velho ditado “O gramado do vizinho é sempre mais verde”
D: Falando em evolução, eu já vi funcionários antigos relatando que antigamente a preocupação era menor, se trabalhava mais tranquilo e praticamente se tinha o mesmo número de acidentes e fatalidades. O que você acha?
P: Realmente se tinha menos cobrança. Por exemplo, trabalhos em barcos, onde se tinha fácil acesso ao mar, e rebocadores, o pessoal embarcado nadava em alto mar, não se usava macacão, ou nenhum EPI, se trabalhava de chinelo de dedo. Hoje é bem diferente. O numero de acidentes diminuiu, isso é fato, porem nos dias de hoje a informação é maior, nos ficamos sabendo de mais casos e divulgamos com a intenção de criar maneiras corretivas e servir de precedente. Acidente fatal geralmente EPI não evita, e os acidentes ditos “bobos” diminuíram drasticamente.
D: Fale mais sobre isso.
P: Então... Hoje existe um registro de tudo, para qualquer desvio, qualquer falha no equipamento, reuniões de segurança, temos muitos procedimentos para manutenções e operações. Os colaboradores preenchem cartões de observação, tem autorização e, de certa forma, a obrigação de interromperem um trabalho caso percebam desvios comportamentais ou condições inseguras. Temos hoje muitas ferramentas para mitigarmos os riscos de cada tarefa a bordo.
D: O que você considera mais importante na prevenção de acidentes?
P: Nós trabalhamos em torno de uma palavra, toda a conscientização, prevenção, tudo aquilo que disponibilizamos como cursos, equipamentos, reuniões diárias de segurança, giram em torno dessa palavra que é considerada aqui por nós "A Palavra-Chave": Percepção de Risco.
Se todo mundo parasse, analisasse, criasse um plano em cima dos riscos inerentes a uma determinada tarefa, as chances de acidentes reduziriam drasticamente. Isso não serve apenas pro mundo Off Shore não, mesmo em casa ou enquanto dirigimos por exemplo, com uma percepção mais aguçada conseguimos evitar incidentes ou acidentes. Creio que todo mundo já teve um estalo alguma vez em que percebeu que algo estava errado e conseguiu corrigir a tempo, é nisso que focamos aqui, fazer com que ninguém faça nada no automático, nada é corriqueiro que não mereça atenção. Nós estamos trabalhando em cima de uma bomba relógio. Somos algo em torno de 100 pessoas aqui e um simples erro de um desses 100 pode causar um desastre, como já aconteceu na história do Petróleo, e é similar em outras áreas da produção.
D: Como você descreveria a palavra desvio?
P: O Desvio é um acontecimento não conforme, pode ser atitude, condição ou mesmo alguma outra interferencia externa. O mais comum realmente é o desvio comportamental. Atos impensados que acabam por gerar condições inseguras, ou o quase acidentes como tratamos no ramo.
D: Como esses desvios são classificados, registrados e prevenidos?
P: Nós temos um meio de controle, a maioria das empresas possui na verdade. Aqui chamamos de Cartão de Observação mas o mesmo objeto pode ter nomes diferente. Esse cartão pode ser preenchido por qualquer funcionário que presencie uma atitude ou condição que gere risco a si próprio, a terceiros, ao equipamento, ao meio ambiente, etc. Existem classificações como: Ato inseguro, Condição Insegura, Quase Acidentes ou Incidentes, Acidentes, Primeiros Socorros.
O funcionário que presenciar tem a obrigação de interromper o serviço que estiver gerando risco e propor uma solução, caso não esteja apto, basta apenas repassar ao setor responsável.
No cartão também é possível sugerir melhorias, e fazer reconhecimentos e elogios. Reportando atitudes seguras, ecologicamente corretas ou ate mesmo um reconhecimento de QSMS.
D: E os registros?
P: Os registros são analisados de diversas maneiras, a empresa mantém um banco de dados e estatística. Como aqui é contrato Petrobras então todos os da Petrobras vão também pro setor responsável e resultam em estatística, e também existe uma estatística global como a pirâmide de Frank Bird.
Os dados da Petrobras são sempre divulgados por e-mail para o setor de QSMS de todas as empresas contratadas, relatando o acidente, causa, gravidade, a forma de evitar, danos e afins.
D: Relate um caso onde a consientização de segurança ou percepção de risco salvou alguém de algo mais sério.
P: Uma historia que vou lembrar sempre, é ate engraçada na verdade. Um colaborador nosso estava realizando um trabalho em altura, numa plataforma estática (andaime) de aproximadamente três metros, pisou em falso e caiu dessa plataforma. Como manda o protocolo, o colaborador utilizava-se do cinto de segurança e talabarte pinçados acima da cabeça, o que acabou evitando o choque com o deck da plataforma. Deu tudo certo. Porem, ele ficou pendurado pelo EPI em torno de uns sessenta centímetros do deck numa posição que o impossibilitava de sair por conta própria. O companheiro de trabalho vendo que estava tudo bem, ao invés de ajudar chamou segurança, algumas outras pessoas e logo o local encheu de curiosos observando o rapaz ali pendurado a centímetros do chão.
Mas disso tudo tem que se parar pra pensar, se por acaso se tratasse de uma altura considerável, uns seis, oito metros isso já teria um aspecto diferente. Não seria engraçado ou descontraído. E logicamente, o uso do EPI completo evitou qualquer machucado mais serio que com certeza teria acontecido mesmo a meros três metros.
D: O trabalho em altura teve uma reformulação recentemente. Está muito mais burocrático e é um tema tratado nas reuniões com mais frequência. Qual o motivo?
P: No ano de 2013 os sistemas da Petrobras registraram apenas dois óbitos, ambos por queda. E muito próximos um caso do outro, apenas dias de distancia, quatro, seis, não me lembro muito bem. Isso causou um baque no nosso segmento, e as exigências com trabalhos em altura ficaram mais severas. Hoje pra um trabalho em altura ser realizado, o lugar tem que ser inspecionado, ter todos os equipamentos de proteção disponíveis e certificados. O colaborador sempre deve trabalhar acompanhado ou com um observador, alem de ter de estar apto mentalmente e fisicamente. A exigência do NR-35 entrou em vigor nos sistemas, a pressão é aferida, dados dos equipamentos de proteção são coletados previamente (CA, número de série, fabricante), sem falar em toda documentação necessária junto a equipe de QSMS que ficará preparada pra um possível resgate.
D: Pra finalizar, há alguma história trágica onde algum procedimento ou atitude indevida gerou um acidente grave?
P: Eu trabalhava em uma empresa de escavação para dutos de gás, num dado momento o trator principal apresentou defeito no motor, não podendo se locomover mais. Sei que não parece o ideal mas, o procedimento manda que um segundo trator reboque o primeiro, e isso estava acontecendo ate que tudo parou novamente durante a atividade do reboque com o cabo de aço já tencionado. A única recomendação nesse momento é todo mundo se manter afastado e que os tratoristas não desçam dos veículos. Ninguém entende ate hoje o porquê, mas o tratorista rebocado desceu pra verificar algo e nesse momento o cabo se rompeu e o atingiu na altura do abdome. O estrago foi grande e não houve tempo nem para os primeiros socorros.
Não é incomum pessoas experientes acostumadas com determinadas relaxarem e agir por impulso ou no automático. É aí que mora o perigo.
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